Amigos negros após as dores dos açoites,
Emitiram com euforia o seu grito
Queriam a liberdade, mas não sabiam como lidar
E nem o que ela poderia lhes representar
E soltos no mato, de imediato agradeciam a Deus
Choravam, gemiam
E os sentimentos de esperança e revolta se misturavam
Mas era potente o grito que estava no ar: Estou livre
O que posso fazer agora? Por onde começar?
Os negros sabiam o que queriam
Recomeçariam uma nova trajetória de vida
Longe dos seus senhores e da senzala maldita
Muitos já haviam perdido chances no passado
A beleza já era alquebrada, mas estavam libertos
Das algemas da maldade,
Da prisão que o escoltava durante os dias e as noites
Em sociedade longe dali
Os negros sorriam para se organizar
E juntos viverem uma nova experiência
Iriam se recompor, casariam, teriam filhos,
Os sonhos não se esvaíram, eles foram alimentados
Durante a vida, até a morte,
O sofrimento os fizeram mais audazes
E deram a volta por cima
Continuavam homens de pele negra capazes de governar
De produzir, de se embelezar
De conviver em sociedade
E os negros se colonizaram nos quilombos
Unidos se tornaram cada vez mais produtivos
Dividindo lucros, alegrias, as suas danças, a sua capoeira
Ao som do berimbau de sua fabricação
Os nossos compatriotas sofridos
Passaram a dormir o sono dos justos
Ninguém os importunaria, estavam livres
E juntos não se cansavam de orar a Deus
E para a Rainha Branca que com sua caneta de ouro assinaria
A sublime sentença da alforria
Mas nem tudo se tornou flores, muitos deles cansados dos açoites
Com os corpos marcados por dentro e por fora
Não conseguiram fazer toda festa que desejaram
Foram recambiados para as planícies
Daqueles que obtiveram os seus resgates
Através do desencarne pela força do chicote ferrenho
Aureolados de luz agradeceram a Jesus a sua estada na terra
Após o restabelecimento
Continuaram a colocar suas mãos amigas
Naqueles a quem consideravam família
Mesmo sem saber seu sobrenome
Subiram de posto na escala do progresso evolutico
E hoje se manifestam com humildade
Como josés, como marias e joaquins...
Nesse momento me rendo congratulando
Com todos esses brasileiros, homens como nós
Que gemeram, choraram suando sangue
Somente por ter cor escura e de porte musculoso
Foram traficados da África e de outras regiões brasileiras
Sendo alvo de uma história cujo capitulo se encerra
Através da moça branca
Que compactuou com os seus sonhos
E os colocou soltos com um grito na garganta:
Estamos livres graças a nossa Princesa Isabel!
Salve a moça ousada que fez honrar
O seu posto de princesa na terra
Salve a sua coroa!
Graças a Deus, graça a Deus!
Algum tempo se passou e o negro já se posicionou
Nas letras, na música, na advocacia, na medicina, no senado...
Mas é preciso mais: Ninguém pode ser discriminado
Por ter a pele do seu corpo escura
Que façamos prevalecer à lei do preconceito
Todos são iguais perante a lei da criação
Nenhum tipo de escravidão poderá mais existir
Porque as algemas forram cerradas
E o tempo da guerra contra os negros
Nunca mais pode voltar
Porque a lei da liberdade é igual para todos nós
Deus não nos reconhece pela pele e sim pelo nosso coração
Mas quem nos garante se as pessoas que hoje sofrem
a discriminação racial
Não sejam os mesmos que perseguiram
E fizeram no passado chagas nos nossos irmãos negros?
A lei se cumpre, mais cedo ou mais tarde.
Não exatamente somente assim, mas de outras formas
Liberdade em tempo para todos nós
Para que façamos das nossas vidas
Um jogo misto de paz e de amor
Equilíbrio e luz para todos, como branco ou como negro
Em terras do nosso amado país
Que se chama Brasil, pátria verde e amarela
Cuja bandeira continua brilhando no nosso coração
Mesmo que manchada das perseguições ao homem negro
Que habitou noutra época parte do solo produtivo e brasileiro.
Castro Alves
Canal: Francyska Almeida-130509-Fort-Ce.
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