sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Um grito de liberdade solto no ar




Amigos negros após as dores dos açoites,

Emitiram com euforia o seu grito

Queriam a liberdade, mas não sabiam como lidar

E nem o que ela poderia lhes representar

E soltos no mato, de imediato agradeciam a Deus

Choravam, gemiam

E os sentimentos de esperança e revolta se misturavam

Mas era potente o grito que estava no ar: Estou livre

O que posso fazer agora? Por onde começar?

Os negros sabiam o que queriam

Recomeçariam uma nova trajetória de vida

Longe dos seus senhores e da senzala maldita

Muitos já haviam perdido chances no passado

A beleza já era alquebrada, mas estavam libertos

Das algemas da maldade,

Da prisão que o escoltava durante os dias e as noites

Em sociedade longe dali

Os negros sorriam para se organizar

E juntos viverem uma nova experiência

Iriam se recompor, casariam, teriam filhos,

Os sonhos não se esvaíram, eles foram alimentados

Durante a vida, até a morte,

O sofrimento os fizeram mais audazes

E deram a volta por cima

Continuavam homens de pele negra capazes de governar

De produzir, de se embelezar

De conviver em sociedade

E os negros se colonizaram nos quilombos

Unidos se tornaram cada vez mais produtivos

Dividindo lucros, alegrias, as suas danças, a sua capoeira

Ao som do berimbau de sua fabricação

Os nossos compatriotas sofridos

Passaram a dormir o sono dos justos

Ninguém os importunaria, estavam livres

E juntos não se cansavam de orar a Deus

E para a Rainha Branca que com sua caneta de ouro assinaria

A sublime sentença da alforria

Mas nem tudo se tornou flores, muitos deles cansados dos açoites

Com os corpos marcados por dentro e por fora

Não conseguiram fazer toda festa que desejaram

Foram recambiados para as planícies

Daqueles que obtiveram os seus resgates

Através do desencarne pela força do chicote ferrenho

Aureolados de luz agradeceram a Jesus a sua estada na terra



Após o restabelecimento

Continuaram a colocar suas mãos amigas

Naqueles a quem consideravam família

Mesmo sem saber seu sobrenome

Subiram de posto na escala do progresso evolutico

E hoje se manifestam com humildade

Como josés, como marias e joaquins...



Nesse momento me rendo congratulando

Com todos esses brasileiros, homens como nós

Que gemeram, choraram suando sangue

Somente por ter cor escura e de porte musculoso

Foram traficados da África e de outras regiões brasileiras

Sendo alvo de uma história cujo capitulo se encerra

Através da moça branca

Que compactuou com os seus sonhos

E os colocou soltos com um grito na garganta:

Estamos livres graças a nossa Princesa Isabel!

Salve a moça ousada que fez honrar

O seu posto de princesa na terra

Salve a sua coroa!

Graças a Deus, graça a Deus!

Algum tempo se passou e o negro já se posicionou

Nas letras, na música, na advocacia, na medicina, no senado...

Mas é preciso mais: Ninguém pode ser discriminado

Por ter a pele do seu corpo escura

Que façamos prevalecer à lei do preconceito

Todos são iguais perante a lei da criação

Nenhum tipo de escravidão poderá mais existir

Porque as algemas forram cerradas

E o tempo da guerra contra os negros

Nunca mais pode voltar

Porque a lei da liberdade é igual para todos nós

Deus não nos reconhece pela pele e sim pelo nosso coração

Mas quem nos garante se as pessoas que hoje sofrem

a discriminação racial

Não sejam os mesmos que perseguiram

E fizeram no passado chagas nos nossos irmãos negros?

A lei se cumpre, mais cedo ou mais tarde.

Não exatamente somente assim, mas de outras formas

Liberdade em tempo para todos nós

Para que façamos das nossas vidas

Um jogo misto de paz e de amor

Equilíbrio e luz para todos, como branco ou como negro

Em terras do nosso amado país

Que se chama Brasil, pátria verde e amarela

Cuja bandeira continua brilhando no nosso coração

Mesmo que manchada das perseguições ao homem negro

Que habitou noutra época parte do solo produtivo e brasileiro.

Castro Alves

Canal: Francyska Almeida-130509-Fort-Ce.

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